Transporte público lotado e caro fazem paulistanos optarem pelo carro mais uma vez
por Keyty Medeiros
A cidade de São Paulo tem hoje quase 8 milhões de veículos, sendo 5,7 milhões destes formada por automóveis, contra apenas 14.512 ônibus municipais circulando pela cidade. Hoje, o paulistano gasta em média, 2h53 para realizar todos os seus deslocamentos num dia, incluindo trabalho, estudos e lazer, segundo pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo, entre agosto e setembro deste ano.
A pesquisa trouxe uma sutileza nos dados: o tempo gasto para se deslocar varia muito pouco se considerarmos o modal de transporte adotado. Aqueles que relataram utilizar o carro todos os dias levam, em média, 3h09 para chegar a seu destino, enquanto aqueles que utilizam transporte público gastam 3h12. Um fator que não foi mencionado pela pesquisa, mas que é determinante para a qualidade do deslocamento é a distribuição da moradia e da população no espaço da cidade, já que as regiões que concentram empregos formais ficam no quadrante sudoeste (República, Sé, Berrini e Paulista), de acordo com arquiteto João Chiavone, em entrevista concedida ao bynd, no início do ano.
A pesquisa da Rede Nossa São Paulo entrevistou 1603 pessoas maiores de 16 anos, moradoras de todas as regiões da cidade. Entre as principais preocupações dos paulistanos estão saúde, segurança pública e educação, seguido por transporte público e trânsito. A pesquisa fez uma avaliação de 0 a 10 para levantar a percepção sobre a qualidade de vida dos moradores da cidade sobre temas de interesse público como mobilidade, aplicação das leis pelas autoridades e qualidade do ar. Neste ano, nenhum indicador ultrapassou a marca de 5,5, média de avaliação da escala e não houve variação significativa na avaliação geral sobre o trânsito, poluição do ar ou tempo de deslocamento médio com relação a 2016.
Trânsito: um retrato das políticas de (i)mobilidade urbana
17% dos entrevistados citaram o trânsito como um fator problemático em São Paulo, sendo a reclamação mais recorrente em grupos formados por homens, de 35 a 44 anos, com ensino superior, renda mensal acima de 5 salários mínimos e moradores do centro e das regiões oeste e sul. A qualidade do transporte público, bem como o preço da tarifa, por sua vez, apareceram como um problema para 24% dos entrevistados, sendo um ponto sensível principalmente para jovens de 25 a 34 anos, com ensino fundamental e médio, moradores do extremo sul e da zona leste.
A avaliação dos usuários sobre o trânsito da cidade caiu com relação ao ano passado. Em 2016, a avaliação chegou a 4,2 e em apenas 9 meses de administração municipal atual, atingiu 2,7, valor muito próximo aos 2,8 pontos obtidos em 2008, ano da primeira pesquisa Nossa São Paulo de mobilidade. Apesar do tempo de deslocamento médio pela cidade ter se mantido entre 1h50 e 2h neste período, a percepção do paulistano sobre este indicador também mudou e para pior. No ano passado, a satisfação girava em torno de 4,2, muito ligada às políticas de mobilidade adotadas pela gestão anterior, que favoreciam o uso do transporte público. A gestão atual, que privilegiou o uso dos automóveis em seu plano de metas, marcou 3,4 pontos atual pesquisa da Rede Nossa São Paulo.
Dos 1603 entrevistados, 47% afirmou utilizar o transporte público municipal como principal meio de locomoção pela cidade, enquanto 22% dos entrevistados utilizam o carro. Outros dados relevantes mostram que 13% da população utiliza metrô, 8% se deslocam a pé e 1% usa fretado. Apenas 2% da população utiliza transporte particular compartilhado como táxi, Uber, 99, Cabify e outros. O valor referente a caronas solidárias não foi mensurado.
O desejo é de mudanças
Outro dado da pesquisa indicou que 8 a cada 10 entrevistados trocariam o carro por transporte coletivo, se as condições fossem melhores. A lotação dos veículos e o alto custo da tarifa foram mencionados como fatores que desestimulam o uso dos transportes públicos em São Paulo, tendo sido mencionados por 23% e 20% dos entrevistados, respectivamente.
Um dado curioso revela que 70% da população que recebe até 2 salários mínimos não possui carro, contra 61% dos entrevistados que recebem entre 2 e 5 salários mínimos. Entre aqueles com maior renda mensal, acima de 5 salários, a presença do carro é maciça: 87% dos habitantes mais ricos da cidade possuem carro.
Segundo a CET, em 2016, 64% das viagens de carro realizadas em São Paulo eram subocupadas, ou seja, levavam apenas o motorista. Já pensou no impacto positivo que pode haver no trânsito da cidade se ao invés de 4 carros subocupados indo para o mesmo escritório, houvesse 1 apenas carro cheio a caminho do trabalho? Pense nisso!