Mobilidade urbana e qualidade de vida, nas grandes cidades, são duas coisas inerentemente conectadas. Mais que isso, nosso modelo de transporte está relacionado com impactos ambientais, já que há uma alta emissão de poluentes, o que consequentemente tem a ver com a saúde pública.
Por esses motivos, a qualidade do deslocamento na cidade é um ponto-chave em prol de uma rotina mais sustentável e com bem-estar. Quer entender mais sobre o assunto e descobrir como melhorar a mobilidade urbana na sua cidade? Acompanhe a leitura!
Afinal, o que é mobilidade urbana?
A mobilidade urbana se refere à facilidade de deslocamento de pessoas em uma cidade — seja de carro, a pé, de transporte público etc. Não pense você que esse conceito não é importante ou não merece ser discutido. Para começar, o direito de ir e vir é o 5º artigo da nossa Constituição.
A restrição desse direito, em menor ou maior expressividade, interfere diretamente na qualidade de vida nas grandes cidades — e isso se torna um enorme desafio contemporâneo. Além disso, a mobilidade urbana também tem a ver com sustentabilidade. Lembrando que a ideia de sustentável não se restringe a meio ambiente.
Na realidade, há três esferas fundamentais de um desenvolvimento sustentável, que são a ambiental, a econômica e a social. Mas como isso se relaciona com mobilidade urbana? Veja bem, uma cidade com um mal planejamento de deslocamento apresenta:
- emissão de poluentes muito alta, principalmente nos “horários de pico”;
- população que gasta uma boa parte de seus rendimentos com combustível e estacionamento;
- cidadãos que se estressam diariamente no trânsito e que têm a qualidade de vida comprometida.
Essa situação de imobilidade decorre do inchaço no trânsito, isto é, de um excesso de carros — a quantidade de automóveis nas ruas, muitas vezes, é maior do que a cidade consegue comportar mantendo a fluidez nas vias. Esse é um problema típico dos grandes centros urbanos.
Agora, por que há tantos veículos por aí? Existem dois motivos principais: a preferência pelo carro — o meio de transporte que parece mais confortável — e os sistemas de transporte público precários. Mas, infelizmente, é justamente a decisão de lotar os espaços públicos com automóveis que dá o terreno para imobilidade.
Mobilidade urbana e produtividade
A partir dos resultados da pesquisa “Rumo à Sociedade do Bem-Estar”, que alia dados do IPEA e do IBGE, o Instituto Akatu chegou a conclusões impressionantes em relação aos impactos negativos da imobilidade que tomou conta dos grandes centros urbanos.
Apenas 26% da população tem o privilégio de gastar até 30 minutos por dia para ir e voltar do trabalho. A média de deslocamento dos trabalhadores nas nove principais regiões metropolitanas do Brasil — Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília — calculada pelo IPEA é de 82 minutos.
Se esse tempo médio de deslocamento fosse reduzido para 30 minutos para a totalidade dos trabalhadores nessas regiões, haveria um ganho de produção de R$ 200 bilhões ao ano. Isso equivale a mais de 5% do PIB brasileiro ao converter os 52 minutos economizados em horas trabalhadas!
É natural assumir que um tempo menor de deslocamento não significa necessariamente mais horas de produção, mas certamente representa horas mais produtivas, uma vez que se deslocar na cidade pode ser bastante desgastante. Tanto fisicamente, para quem usa um transporte público lotado, como mentalmente, para quem enfrenta horas de trânsito no volante.
Vamos considerar a hipótese de que uma pessoa que gasta de 30 a 60 minutos por dia para ir e voltar do trabalho teria uma perda de produtividade de 2,5% em relação às pessoas que gastam menos de 30 minutos. Além disso, uma segunda hipótese para o tempo gasto no deslocamento de mais de 60 minutos: uma redução de 5% na produtividade.
O resultado é uma perda estimada de produção que chega a R$ 90 bilhões ao ano nas nove regiões metropolitanas estudadas, o que representa 5% do PIB dessas regiões e 2,5% do PIB brasileiro.
Mobilidade urbana e qualidade de vida
Pense bem: as pessoas perdem muito tempo com o deslocamento diário e, ainda, destinam uma fatia considerável da sua renda com combustível e estacionamento. Além do mais, muitas vezes, ficam sujeitas a transportes coletivos sem o mínimo de conforto ou se veem presas dentro de seus carros no trânsito por horas.
Com isso, já dá para imaginar como mobilidade urbana e qualidade de vida se relacionam, não é mesmo? Mas podemos ir um pouco além. Você viu que menos tempo de deslocamento também melhora significativamente a produtividade profissional. O que, por si só, já é ótimo!
No entanto, mais interessante que o aumento na produtividade é o fato de que o tempo economizado por uma mobilidade mais eficiente provavelmente seria convertido em outras atividades, além do trabalho. Estamos falando de:
- horas de lazer;
- convivência com amigos;
- práticas de exercícios físicos;
- atividades para desenvolvimento pessoal ou profissional;
- momentos em família;
- aprendizado de novos hobbies etc.
Seguramente, qualquer uma dessas atividades aumentaria o bem-estar dos trabalhadores. Considerando o tempo médio de deslocamento levantado pelo IPEA, vamos a um exemplo prático: os 82 minutos diários equivalem a mais de 2 anos de uma vida produtiva.
Em um ano, esses minutos diários equivalem a 499 horas ou 21 dias (29.930 minutos). Ao considerar 35 anos de exercício profissional, esse resultado corresponde a 735 dias. Sabe o que isso significa? É tempo suficiente para cursar uma pós ou acompanhar mais de perto o crescimento de um filho!
A pesquisa do Akatu ainda mostra que a população das regiões urbanas prefere a mobilidade com rapidez, conforto e segurança, em relação a ter um carro próprio (nota 8 e nota 4, respectivamente, em uma escala de 0 a 10).
É evidente que, quanto mais tempo disponível para si mesmo e menos estressante for a ida e volta do trabalho, mais feliz o trabalhador será. Assim, fica claro que uma cidade com maior mobilidade é sinônimo de uma cidade com mais qualidade de vida para todos.
Por que contribuir com a mobilidade urbana?
Como você está vendo, esse assunto é muito relevante. Agora, por que você, caro cidadão assalariado, precisa se preocupar com isso? É simples! Embora os esforços para melhorar mobilidade urbana e qualidade vida nas grandes cidades precisem vir do poder público, você não precisa esperar sentado por uma solução.
Na realidade, os cidadãos têm a capacidade de reverter ou ao menos amenizar o problema da imobilidade bem ao alcance das mãos. Afinal, basta pensar que os carros, ônibus e bicicletas que estão nas ruas, todos os dias, servem para transportar pessoas.
Ou seja, nós somos um agente protagonista nessa história. Justamente por isso, o incentivo a práticas mais sustentáveis no dia a dia da população interfere direta e positivamente na mobilidade. Não sabe como? Veja quais são as possibilidades do poder público e também da população.
Como a mobilidade urbana pode ser otimizada?
O bom planejamento dos centros urbanos é essencial para um futuro com melhor mobilidade urbana. Aliás, um conceito que está com tudo é o de “smart cities“, as cidades inteligentes, totalmente projetadas para diminuir o problema do deslocamento.
Iniciativas governamentais
Entre as principais práticas que podem ser adotadas pelo poder público, estão:
- rodízio de carros: bastante comum nas grandes capitais, o rodízio reduz a presença de carros nas ruas, uma vez que restringe a circulação de determinadas placas nos horários de picos dos dias úteis. Ao menos no dia do seu rodízio, o motorista precisa se deslocar de carona ou de transporte público;
- faixas exclusivas para ônibus: a existência de faixas exclusivas para ônibus também contribui com a mobilidade, já que o transporte público ganha agilidade e rapidez no trajeto e se torna um atrativo frente ao congestionamento nas faixas de carros;